Existe uma forma (certa) de criar valor?

No passado, me via fazendo coisas da forma “certa”: a forma “certa” de escrever sobre um tema, a forma “certa” de bater papo com garotas bonitas, a forma “certa” de construir uma organização. Em minha cabeça, acreditava na ideia que existia uma forma perfeita de fazer as coisas, e que o sucesso se resumia a descobri-la e colocá-la em prática. Na teoria, parecia algo sensato: de modo geral, sempre existe uma forma “mais eficiente” de otimizar um sistema, logo, deveria haver uma forma “perfeita” para tudo.

Mesmo assim, quando tentava pôr em prática tal “fórmula”, incorria em problemas: eu nunca conseguia parar de trabalhar em um projeto: sempre havia algo a ser melhorado, que não estava “perfeito”. “Só mais uma coisinha para melhorar antes de lançar esse workshop.” Eu não conseguia terminar nada, pois tudo tinha que, primeiro, estar perfeito. Isso também me afastava da mentalidade de resolução de problemas: em vez de tentar descobrir como resolver o problema, eu me focava na busca da solução “perfeita”. Em vez de abordar os problemas com uma mentalidade criativa e empreendedora, caía na armadilha do “alguém provavelmente tem a resposta, só preciso encontrá-la”. Meu primeiro passo era sempre recorrer aos outros, em vez de pensar por mim mesmo. Tal postura sugava a minha autoestima: em vez de uma série de coisas que poderia considerar como projetos exitosos finalizados ou ações tomadas, eu tinha uma série de coisas que considerava como “quase certas”.

Eu pouco fazia, afastando-me da mentalidade empreendedora, e nunca sentia um senso de eficácia ou orgulho das coisas que lançava. As coisas não podiam continuar assim.

Havia uma pergunta que eu não tinha me feito, que poderia ter me poupado muito tempo e energia, além de ter me colocado no caminho do sucesso muito antes: perfeito – para quê?

As coisas não são perfeitas em si mesmas; elas são perfeitas por cumprir determinado objetivo, perfeitas porque cumprem tal objetivo, e perfeitas apenas para tal. A forma “certa” de apresentar essa ideia é a forma que a transmite de forma mais efetiva para você, caro leitor. Eu poderia fazê-lo através de uma história, de uma analogia ou de uma dissertação. Cada uma delas é igualmente “perfeita” porque pode transmitir a minha ideia. Quando adiciono outro objetivo à lista (por exemplo, que você, caro leitor, não durma) algumas delas já não são mais perfeitas porque não cumprem o novo objetivo proposto. Imagine se eu tivesse escrito uma dissertação…zzz

Tal insight se aplica não só ao lado profissional da vida. O que é perfeito para mim, um jovem de 22 anos do interior interessado em coaching, não será perfeito para você; o que é perfeito para você e eu, pessoas interessadas em um estilo de vida empreendedor, não será perfeito para uma pessoa que busca um emprego CLT e uma família com dois filhos. A dieta de um atleta profissional será diferente da dieta de um cidadão comum; e entre atletas de esportes diferentes, ou mesmo de atletas do mesmo esporte, a dieta também varia dependendo de objetivos e circunstâncias. Não há nada “perfeito” por si mesmo. “Perfeito” é contextual.

Era isso que faltava. O “perfeito” vago, sem contexto, que estava perseguindo perpetuamente não existia – então, é claro, não estava fazendo qualquer progresso. Eu não conseguia finalizar as coisas porque não sabia quando estavam perfeitas; eu não conseguia resolver problemas porque não tinha ideia de quais eram os objetivos concretos; eu não conseguia sentir um senso de eficácia porque o que estava fazendo não estava funcionando. Tão logo entendi tal ponto, mudei meu foco de encontrar a forma “certa” de fazer as coisas para encontrar a forma que cumpriria todos os objetivos que tinha traçado. A paralisia acabou, a mentalidade de resolução de problemas foi recuperada, e minha autoestima voltou a crescer.

O que me preocupa é que essa visão não é incomum. Suas raízes mais profundas estão na filosofia (obrigado, Platão), logo, sua influência é generalizada; todavia, uma de suas manifestações mais evidentes está na educação. Consciente ou inconscientemente, essa mentalidade sem contexto do “perfeito” é reforçada em tudo que fazemos. Você deve aprender através de um método “perfeito” (ou perder seu tempo fingindo fazê-lo), ou você será um fracasso (leia-se, participação). Se você não resolver seus problemas por meio de um método “perfeito”, você será um fracasso. Se você não puder reproduzir seu conhecimento através de um método “perfeito” (provas), você será um fracasso. Existe apenas uma forma, e essa é a forma certa, e você tem de segui-la – ou, você será um fracasso.

Tal postura não reflete a vida no mundo real. Não existe um método “perfeito”; no mercado, as pessoas não se importam se você fez algo da forma “certa”; elas só se importam se você fez algo de forma que as auxilia a resolver seus problemas. Elas estão sempre fazendo a pergunta – “perfeito – para quê?” Cada pessoa está analisando um produto que é perfeito para ela, que cumpre os objetivos que ela está buscando realizar; mas, como eu disse, o “perfeito” é diferente para cada pessoa: você e eu temos objetivos diferentes, logo, um produto que é ótimo para você pode ser terrível para mim; seu valor é contextual.

Ao ensinar às crianças que existe uma forma “perfeita” de fazer as coisas, a escola as ensina a pensar que existe um produto “perfeito” – um produto que todo mundo desejará e do qual precisará igualmente, não importando preferências ou circunstâncias pessoais. No mundo profissional, essa mentalidade faz com que as pessoas parem de focar em resolver problemas de consumidores reais, prejudicando sua habilidade de resolver problemas de forma criativa e reduzindo sua autoestima, além de confundir seu entendimento da criação de valor, deixando-as impotentes para ter sucesso no mundo real. E é isso que nossas escolas estão ensinando.

Não existe forma “perfeita” de criar valor. Se quisermos promover sucesso, autoestima e empreendedorismo, precisamos de um novo modelo educacional que ensine às crianças que “perfeito” é contextual.

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Publicado originalmente em Discover Praxis.

Traduzido por Matheus Pacini.

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