Economia versus egoísmo (irracional)

Os ensinamentos da economia encontram oposição não só dos apoiadores do altruísmo, mas também dos praticantes de uma forma irracional, míope e contraproducente de autointeresse. Entre eles estão todos os empresários e assalariados cujos interesses de curto prazo seriam prejudicados pela livre concorrência do capitalismo, e que são protegidos ativamente pelas políticas de intervenção governamental as quais recorrem sempre que possível. Por exemplo, empresários e assalariados que buscam subsídios governamentais, controle de preços, tarifas, leis de licenciamento, isenções fiscais, privilégios sindicais, cotas de imigração, etc.

Esses empresários e assalariados se transformam em grupos de pressão e lobby, e buscam lucrar à custa do resto da população. Eles e seus porta-vozes exploram inescrupulosamente a ignorância econômica da maioria ao apelar para equívocos populares, usando-os em apoio de políticas destrutivas. A sua ação é autodestrutiva na medida em que o sucesso de cada grupo em alcançar seus privilégios impõe perdas maiores a outros grupos que seu próprio ganho. O efeito líquido disso são perdas para todos, afinal, um grupo espolia os outros e é, ao mesmo tempo, espoliado por eles. No processo, o total geral da produção cai.

Por exemplo, o que os agricultores obtêm em subsídios, perdem em tarifas e preços altos, devido ao monopólio dos sindicatos e aos tributos mais altos para financiar o assistencialismo, etc. Na verdade, os ganhos de cada tipo de agricultor são anulados, em parte, pelos ganhos de outros tipos de agricultores – por exemplo, os ganhos dos produtores de trigo são perdidos, em parte, quando pagam preços mais altos por outros produtos agrícolas subsidiados como algodão, tabaco, leite e manteiga. Da mesma forma, o benefício de salários maiores assegurados pelo sindicato laboral X é perdido quando seus membros pagam preços mais altos por produtos produzidos por membros de outros sindicatos ou que foram afetados por subsídios, tarifas e assim por diante. O efeito líquido acaba sendo uma produção virtualmente menor de tudo, devido ao fato que tais políticas reduzem a eficiência da produção e as oportunidades de emprego. Praticamente todo mundo fica em situação pior – tanto desempregados como empregados. Devido às ineficiências introduzidas, os últimos devem pagar preços que crescem em um ritmo superior à sua renda, além de contribuir, indireta e involuntariamente, para o sustento dos desempregados.

Os membros de grupos de pressão podem ter a impressão de estar lutando por seus interesses. Os apoiadores do altruísmo e do socialismo podem acreditar que o terrível processo de pilhagem mútua levado adiante por tais grupos representa o capitalismo e a busca do lucro. Mas o fato é que o autointeresse não é alcançado através do conflito entre grupos de pressão; tampouco é a atividade de grupos de pressão uma característica do capitalismo. Pelo contrário, é produto de uma “economia mista” – uma economia que permanece capitalista em sua estrutura básica, mas na qual o governo está sempre pronto a intervir pela concessão de favores a alguns grupos, enquanto pune outros.

Como usado nesse livro, o termo “economia mista” tem o mesmo significado entendido por Mises. Como ele explica, um sistema econômico é ou uma economia de mercado, no caso de suas operações serem determinadas pela iniciativa de indivíduos privados motivados pelo lucro, ou uma economia socialista, no caso de suas operações serem determinadas pelo governo. Essas duas alternativas não podem ser combinadas em uma economia que, de alguma forma, seria uma mistura de possibilidades mutuamente exclusivas. Assim, o termo “economia mista” deve ser entendido como uma denotação de economia de mercado restrita.

Em contraste, sob o capitalismo genuíno – capitalismo de livre mercado – o governo não tem favores a conceder e nenhuma penalidade arbitrária a impor. Assim, ele nada tem a oferecer a grupos de pressão e não cria nenhuma base para a formação de grupos de pressão motivados por considerações de autodefesa.

O absurdo da mentalidade de grupo de pressão se manifesta no fato subsequente de oferecer apoio poderoso ao medo e ódio do autointeresse que emana do altruísmo levando, assim, à supressão da busca do autointeresse. Os membros de grupos de pressão estão em posição contraditória de desejar servir seus interesses particulares e, ainda assim, com boa razão, ter simultaneamente de temer e se opor à busca do autointeresse pelos outros, dado que, pela existência do conflito entre grupos de pressão, o ganho de um é a perda de outro. O resultado é que, enquanto as pessoas se esforçam para alcançar o seu autointeresse em sua capacidade como membros do grupo de pressão, ainda assim, em sua capacidade como cidadãos, esforçam-se para criar condições sociais em que a busca do autointeresse de qualquer tipo se torna cada vez mais difícil. Pois, dada essa mentalidade, não se pode evitar considerar a busca do autointeresse como antissocial, opondo-se a ele para o resto das pessoas.

Dessa forma, a busca do autointeresse irracional representada pelo conflito entre grupos de pressão, de fato, representa pessoas ativa e poderosamente operando contra o seu próprio autointeresse.

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Publicado originalmente em Capitalism: A Treatise in Economics.

Traduzido por Matheus Pacini.

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