Ayn Rand sobre amor e sexo

***Esse é um trecho da entrevista de Ayn Rand à revista Playboy. Ela está disponível na íntegra aqui***

PLAYBOY: Em que momento, você diria, o amor romântico deveria se encaixar na vida de uma pessoa racional cuja única paixão é o trabalho?

RAND: É a sua maior recompensa. O único homem capaz de experimentar um profundo amor romântico é o homem movido pela paixão por seu trabalho – porque o amor é uma expressão da autoestima e dos valores mais profundos de um homem, ou do caráter de uma mulher. Só ama uma pessoa que compartilha esses valores. Se um homem não tem valores claramente definidos, nem caráter moral, ele não é capaz de apreciar outra pessoa. A esse respeito, gostaria de citar A Nascente, em que o herói pronuncia uma frase que tem sido muitas vezes citada por leitores: “Para dizer ‘eu te amo’, é preciso saber primeiro como dizer ‘eu’.”

PLAYBOY: Você considera que a felicidade é o fim mais elevado, e que o autossacrifício é imoral. Isso se aplica ao amor assim como ao trabalho?

RAND: Para o amor mais do que para qualquer outra coisa. Quando você está apaixonado, isso significa que a pessoa que você ama é de grande importância – egoísta e pessoal – para você e sua vida. Se você fosse altruísta, significaria dizer que você não têm nenhum prazer pessoal nem felicidade com a companhia ou a existência da pessoa que você ama, e que sua motivação resume-se à autossacrifício e à pena da necessidade que a pessoa tem de você. Eu não preciso destacar que ninguém iria se sentir lisonjeado, nem aceitaria, esse tipo de amor. O amor não é autossacrifício, mas sim a afirmação mais profunda das necessidades e valores próprios de um indivíduo. É para sua própria felicidade que você precisa da pessoa que você ama, e esse é o maior elogio, a maior homenagem que podemos prestar a essa pessoa.

PLAYBOY: Você tem denunciado a noção puritana de que o amor físico é feio ou mau, ainda que você tenha escrito que “desejo indiscriminado e indulgência não seletiva só são possíveis para aqueles que consideram o sexo e a si mesmos como mal.” Você diria que a indulgência seletiva e a discriminação na questão sexual é moral?

RAND: Eu diria que uma vida sexual que discrimina e é seletiva é um luxo, não uma indulgência. O termo indulgência implica que é uma ação tomada de forma leve e casual. Eu afirmo que o sexo é um dos aspectos mais importantes da vida do homem e, portanto, nunca deve ser abordado de forma leviana. Uma relação sexual é adequada apenas no terreno dos valores mais elevados que se pode encontrar em um ser humano. O sexo não deve ser outra coisa além de uma resposta a valores. E é por isso que eu considero a promiscuidade imoral. Não é porque o sexo é mau, mas porque o sexo é muito bom e muito importante.

PLAYBOY: Isso implica, em sua opinião, que o sexo deve envolver apenas casados?

RAND: Não necessariamente. O sexo deve envolver uma relação muito séria. Se essa relação deve ou não se tornar um casamento é uma questão que depende das circunstâncias e do contexto de vida das duas pessoas. Eu considero o casamento uma instituição muito importante se, e somente quando duas pessoas encontraram a pessoa com quem desejam passar o resto de suas vidas – uma questão da qual nenhum homem ou mulher pode ser automaticamente seguro. Quando um está certo de que a escolha do outro é final, então, o casamento é, naturalmente, um estado desejável. Mas isso não significa que qualquer relação baseada em menos do que a total certeza seja imprópria. Acho que a questão de um caso ou de um casamento depende do conhecimento e da posição das duas pessoas envolvidas e deve ser deixada para elas. Ambas são morais, contanto que as partes levem o relacionamento a sério, e que se baseiem em valores.

PLAYBOY: Como alguém que defende a causa do autointeresse se sente sobre dedicar a vida à autogratificação hedonista?

RAND: Eu sou profundamente contrária à filosofia do hedonismo. O hedonismo é a doutrina que sustenta que o bom é o que lhe dá prazer e, portanto, o prazer é o padrão de moralidade. O Objetivismo sustenta que o bem deve ser definido por um padrão racional de valor, que o prazer não é a causa primária, mas tão só uma consequência; que só o prazer que procede de um juízo de valor racional pode ser considerado moral; que o prazer, como tal, não é um guia para a ação, nem um padrão de moralidade. Dizer que o prazer deve ser o padrão de moralidade significa, simplesmente, que qualquer valor que você vier a escolher, consciente ou inconscientemente, racional ou irracionalmente, está certo e moral. Isso significa que você deve ser guiado por sentimentos, emoções e caprichos casuais, e não por sua mente. Minha filosofia é o oposto do hedonismo. Eu defendo que não se pode alcançar a felicidade por acaso, via meios arbitrários ou subjetivos. Pode-se alcançar a felicidade apenas com base em valores racionais. Por valores racionais, eu não me refiro a nada que um homem possa, arbitrária ou cegamente, declarar ser racional. É a província da moralidade, da ciência da ética, definir para os homens o que é um padrão racional e quais são os valores racionais a perseguir.

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Tradução de Roberto Rachewsky

Revisão de Matheus Pacini

Publicado originalmente por Playboy

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