As lições econômicas de A Revolta de Atlas

O romance A Revolta de Atlas é amplamente conhecido como uma obra-prima de literatura e de filosofia. Não tão reconhecido, porém igualmente verdadeiro, é que A Revolta de Atlas é um romance repleto de reflexões econômicas. Com base em uma análise da realidade, ele traz diversos insights e pode ser considerado um tratado de economia política, posto que oferece um tratamento literário de princípios, conceitos, questões e temas econômicos. Esse grande romance retrata uma onda crescente de intervencionismo e o fracasso sistemático do governo, apresentando uma defesa completa de um sistema de mercado totalmente desregulamentado. Em seus romances, Ayn Rand consegue ensinar lições de economia de livre mercado de forma muito mais memorável e engajadora que a disponível em livros e artigos de economia.

Para começar, A Revolta de Atlas descreve magnificamente o papel da iniciativa individual e da criatividade no progresso econômico. Rand mostra, em especial, através da greve de John Galt, que a mente é a fonte fundamental da riqueza e do lucro. São os pensadores os verdadeiros criadores da riqueza e principais responsáveis pela prosperidade. São os capitalistas, os industrialistas e os empreendedores como Hank Rearden, Dagny Taggard, Ken Dannagar, Ellis Wyatt e Midas Mulligan que remodelam o mundo ao serem os pioneiros do mercado. São os pensadores os agentes criativos que criam riqueza e promovem a prosperidade econômica humana por meio da inovação e da criação de novos empreendimentos: são eles que impulsionam o mundo e o sustentam. Grande parte da obra é um estudo dos grandes produtores, cuja habilidade de ver, fazer conexões e criar permitem o surgimento do novo. A Revolta de Atlas propõe um argumento convincente de que (1) a mente está na raiz da criação e manutenção da riqueza; (2) o produtor apaixonado é o primeiro – a mão visível do mercado; e (3) o caráter racional, criativo e proposital do ser humano é refletido no ato da produção material.

Em seu discurso do dinheiro, Francisco explica que o dinheiro torna-se possível devido aos produtores. O dinheiro é um meio de troca que supõe a existência de homens produtivos – e dos resultados de suas atividades. A riqueza é, assim, uma fonte de dinheiro. O dinheiro é o efeito, em vez da causa, da riqueza. O dinheiro em mãos de uma pessoa simboliza a produção que já ocorreu, julgada valiosa por outras pessoas. Quando um indivíduo recebe compensação em dinheiro pelo seu trabalho ele o faz de modo a trocá-lo por produtos e serviços tornados possíveis por outros indivíduos.

A Revolta de Atlas, em geral, e o discurso de Francisco, em particular, enfatizam que é a produção que gera a demanda por outros produtos e serviços – a produção é a fonte da demanda. A Revolta de Atlas retrata e explica a Lei de Say, a qual afirma que a oferta cria sua própria demanda. A produção é primária, e é precondição para o consumo. Um indivíduo só pode demandar produtos e serviços dos outros se ele tiver previamente tido sucesso na venda de seus próprios produtos ou serviços, isto é, quem consome precisa produzir de modo a obter dinheiro que, por sua vez, poderá ser trocado por outros produtos e serviços.

Francisco explica que o dinheiro é, ou deveria ser, um padrão objetivo de valor ligado à realidade, de modo a agir como integrador de valores econômicos. Um padrão objetivo ligado à realidade requer uma commodity objetiva como, por exemplo, uma onça de ouro. O ouro é um meio de preservação de riqueza e valor. Os preços em moeda (baseados em tal padrão objetivo – ouro) expressam com precisão o julgamento das pessoas com respeito ao valor de bens e serviços. Francisco esclarece que essa função da moeda é prejudicada pela inflação, cuja ação extermina a função sinalizadora dos preços: a desvalorização da moeda é o caminho certo para o declínio da sociedade.

Em A Revolta de Atlas, o leitor é capaz de ver como regulações (regulamentos) em uma economia mista são, de fato, propostas. Em vez de promover o chamado “interesse público”, na realidade, as regulações frequentemente fomentam os interesses financeiros privados de lobistas à custa da população em geral. Grupos de interesse fazem lobby por medidas contraditórias, e o governo concede favores aos mais influentes em determinado período do tempo. Um bom exemplo em A Revolta de Atlas é o “acordo” por meio do qual resultam a Resolução Anticompetição Desenfreada e a Lei de Igualdade de Oportunidades resulta.

A resolução Anticompetição Desenfreada impõe uma proibição à “concorrência destrutiva” concedendo prioridade à ferrovia mais antiga operando em dada região do país. Embora a sua justificativa seja a de reconhecer a prioridade histórica e evitar a escassez de transporte, o seu propósito real é colocar a magnífica ferrovia Phoenix-Durango de Dan Conway – concorrente da Taggart Transcontinental na linha do Colorado – fora de operação. O resultado é o sacrifício de um dos membros mais produtivos da Aliança Nacional de Ferrovias (Conway) em prol da companhia menos produtiva de Taggart.

James Taggart usa seus contatos políticos com o produtor de aço Orren Boyle para influenciar a Associação Nacional de Rodovias a aprovar a resolução supracitada. Por sua vez, Boyle exige que Taggart use sua influência em Washington para retirar de Hank Rearden o acesso às suas minas de ferro, entregando-as, por sua vez, a Paul Larkin, que daria a Boyle a prioridade de fornecimento.

Boyle concorda em conseguir os votos necessários na Aliança Nacional das Ferrovias e, em troca, Taggart usa suas conexões em Washington para aprovar a Lei de Igualdade de Oportunidades que proíbe qualquer pessoa ou corporação de ser proprietária de mais de um tipo de ramo de negócio. Isso, é claro, evita que Rearden seja dono das minas que fornecem o minério de ferro de que ele necessita. Para preservar a indústria do aço, “como um todo” (isto é, para salvar a empresa de Boyle), Rearden é despojado de suas minas de ferro, as quais são colocadas em mãos de outrem que dará a Boyle a prioridade pelo minério. Embora a justificação para a Lei de Igualdade de Oportunidades é de que é injusto permitir que um indivíduo seja proprietário de muitos tipos de empresas, a agenda oculta é permitir que a empresa de Boyle compita com a de Rearden. O resultado é o sacrifício da firma produtiva de Rearden em prol da companhia improdutiva de Boyle.

No decorrer da obra, tanto o governo como os políticos progressistas dizem que as pessoas devem se sacrificar pelo bem-estar público. A Revolta de Atlas exalta as consequências depravadas de seguir o princípio de necessidade em detrimento do princípio da produtividade, isto é, aderir ao slogan comunista: “De cada qual, segundo sua capacidade; a cada qual, segundo suas necessidades.”

Por exemplo, o Instituto Científico Nacional não quer que Rearden lance o seu novo metal no mercado por causa do “dano social” que causará aos produtores de aço (como Orren Boyle) que não podem competir com ele. Quando Rearden diz que não se importa com outras empresas, o Instituto tenta suborná-lo e, eventualmente, ameaçá-lo, para que Rearden mantenha seu metal fora do mercado. Rearden entende que a verdadeira responsabilidade social de uma empresa é produzir lucros para os proprietários, enquanto respeita os direitos naturais dos indivíduos.

Então, existe a história da destruição da Companhia de Motores Século XX devido aos resultados do experimento socialista em pequena escala dos herdeiros de Starnes. Ilustrando as consequências do comunismo na prática, os empregados votam para decidir as necessidades de cada trabalhador, bem como a produção esperada de cada trabalhador com base em sua habilidade. A história dessa companhia mostra que, quando as receitas são desconectadas da produção, os incentivos diminuem, a produtividade cai, e o resultado é a falência. Isso, então, serve como exemplo do destino final de um país que se dirige ao coletivismo.

Além disso, existem as Diretivas do Colorado que têm como intenção (pelo menos, oficialmente) de auxiliar no combate à crise nacional ao forçar o Colorado a compartilhar do sofrimento do país. Essas diretivas foram produto dos esforços de grupos de interesse econômico que desejavam o estado industrialmente exitoso do Colorado forçasse as empresas lucrativas nele instaladas a redistribuir seus lucros. É claro, elas levaram a Wyatt Oil e outras firmas à falência e, por conseguinte, à extinção da Linha Rio Norte. Em última instancia, elas adiantaram a aposentadoria e o desaparecimento de muitos industrialistas do Colorado, cujos esforços tinham criado empresas enormemente produtivas, mas que vieram a ser forçados a carregar empresários menos competentes nas costas).

Também encontramos o Plano de Unificação das Ferrovias e o Plano de Unificação do Aço. O Plano de Unificação das Ferrovias foi o esquema desesperado de James Taggard para manter a Taggart Transcontinental viva pela destruição de seus concorrentes. O plano propõe que os lucros totais de todas as companhias ferroviárias sejam alocadas de acordo com a extensão de malha ferroviária que cada uma tem, e não pela quantidade de serviço que cada uma oferece. Logo depois, é proposto o Plano de Unificação do Aço, que segue a mesma lógica do Plano de Unificação das Ferrovias. Todas as receitas das companhias de aço devem ser distribuídas de acordo com o número de fornalhas de cada companhia. Como Boyle tem muitas fornalhas, ele receberia quase o dobro de sua receita atual. Por sua vez, Rearden receberia menos da metade de sua receita atual. Ambos os planos requerem que as empresas produzam “de acordo com sua habilidade”, recebendo “de acordo com sua necessidade.”

O decreto 10.289 dá nocaute na liberdade econômica. Seu pretenso propósito é pôr fim ao declínio econômico do país ao congelar a economia em seu estado atual. O decreto emprega o planejamento central abrangente para congelar a realidade. De fato, ele permite que oficiais do governo e empresários politicamente conectados retenham e, até mesmo, aumentem o seu controle sobre a economia. Esse decreto obriga que todos os trabalhadores permaneçam em seus empregos atuais, que nenhum negócio feche as portas, e que todas as patentes e copyrights sejam “voluntariamente” concedidos ao governo. Ele também proíbe a introdução de novos produtos e inovações, requerendo que as firmas tenham a mesma produção do ano anterior. Além disso, o decreto congela todos salários, preços e lucros, coagindo a população a gastar o mesmo que no ano anterior. É claro, como é possível apelar ao Comitê de Unificação, tal controle governamental inevitavelmente leva à compra e venda de favores econômicos.

O Vale de Galt (também conhecido como Vale de Mulligan ou Atlântida) está em flagrante contraste com o decreto 10.289. Atlântida é um microcosmo ou modelo de sociedade livre rodeada pela sociedade decadente, puramente coletivista. Esse paradigma de uma sociedade livre consiste de associação voluntária de homens unidos por nada além do autointeresse. Aqui, homens produtivos que entraram em greve são livres para produzir e comercializar desde que sigam as regras do Vale. Nessa sociedade secreta, cada indivíduo é livre na busca de seu próprio florescimento e felicidade.

Como vimos, A Revolta de Atlas contém um grande volume de conteúdo econômico. Nele, Rand oferece uma descrição literária das instituições e condições econômicas dentro de um contexto particular. Ela é capaz de explicar os princípios e o funcionamento adequado de um sistema de livre mercado. Rank ilustra magistralmente as relações de causa e efeito dos eventos em uma economia de sociedade. Como uma lição em economia, A Revolta de Atlas ilustra a necessidade de analisar as consequências imediatas de longo prazo, direta e indiretamente, pretendidas ou não, de uma ação ou política governamental. Rand explica que a mente é a fonte de ser humano, e que a mente deve ser livre para inventar e produzir novos produtos e serviços. A Revolta de Atlas ilustra que a intervenção governamental desencoraja a inovação e a tomada de risco, e obstrui o processo de criação de riqueza. Ela também demonstra que a riqueza não é sem causa, e que ao remover a causa (a mente), a greve remove o efeito (a riqueza). O capitalismo é então mostrado ser o único sistema econômico moral porque protege a mente humana, seu meio primário de sobrevivência e florescimento. A Revolta de Atlas é uma ferramenta poderosa para educar, persuadir e converter pessoas a uma ordem política e econômica justa que é a verdadeira reflexão da natureza do homem e do mundo propriamente entendido.

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Publicado originalmente em Le Québécois Libre

Traduzido por Matheus Pacini

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